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Calendario Pagã: 6 de Fevereiro - Deusa Afrodite





Afrodite (em grego antigo: Ἀφροδίτ, transl. Aphrodítē) é a deusa do amor, da beleza e da sexualidade na mitologia grega. Outros atributos incluem: deusa da fertilidade, do prazer e alegria. Historicamente, seu culto na Grécia Antiga foi importado da Ásia, influenciado pelo culto de Astarte, na Fenícia, e de sua cognata, a deusa Ishtar dos acádios. Ambas eram deusas do amor, e seus atributos e rituais foram incorporados no culto grego a Afrodite. Na era romana, seria a vez de Afrodite ser a influência, dando origem à sua equivalente romana, a deusa Vênus. De acordo com a Teogonia, de Hesíodo, ela nasceu quando Cronos cortou os órgãos genitais de Urano e arremessou-os no mar; da espuma (aphros) surgida ergueu-se Afrodite. Os principais mitos envolvendo a deusa são a saga da Guerra de Troia, onde ela protegeu a cidade de Troia e os amantes Helena e Páris; sua perseguição a mortais que a ofenderam, como Psiquê e Hipólito; as bênçãos dadas a fiéis como Pigmaleão para viverem com suas amadas; e seus diversos casos amorosos, como Ares e Adônis. Afrodite recebeu vários epítetos, principalmente porque seus cultos variavam em cada cidade grega. Recebeu os nomes de Citere ou Citereia (Cytherea) e Cípria (Cypris) por dois locais onde seu culto era célebre na Antiguidade, Citera e Chipre - cada um deles alegando ser o local de nascimento da deusa. Afrodite ainda recebia muitos outros nomes locais, como Acidália e Cerigo, utilizadas em regiões específicas da Grécia. Mesmo com os cultos diferentes, os gregos reconheciam a semelhança geral entre todas como sendo a única Afrodite. Afrodite, juntamente com Apolo, representa a obsessão dos gregos pela beleza ideal. Ela foi constantemente reproduzida nas Artes, da Antiguidade à Idade Contemporânea, dada a oportunidade dos artistas criarem uma beleza divina. Nos dias atuais, seu mito continua exercendo influência na cultura, e muitas vertentes do neopaganismo voltaram a lhe prestar culto. Etimologia A pronúncia arcaica (homérica) do nome Ἀφροδίτη era aproximadamente [ˌapʰroˈdiːtɛː]. No grego koiné esta pronúncia se tornou [ˌafroˈdiːtɛː], passando posteriormente para [ˌafroˈditi] no grego bizantino, devido ao fenômeno do iotacismo (erro de escrita em manuscritos gregos). A etimologia do nome não é conhecida com segurança. Hesíodo o associou a ἀφρός (aphros), "espuma", interpretando-o como "erguida da espuma". Esta origem, no entanto, foi classificada como etimologia popular por diversos autores, e diversas outras etimologias especulativas, muitas derivadas de idiomas não gregos, foram sugeridas por estes autores. O indo-europeísta Michael Janda (2010) considera genuína a conexão com "espuma", identificando o mito de Afrodite se erguendo das águas após Cronos derrotar Urano como um mitema do período proto-indo-europeu. De acordo com esta interpretação, o nome seria derivado de aphrós (espuma) e déatai ([ela] parece ou brilha - no infinitivo) déasthai), significando "aquela que brilha da espuma [do oceano]", uma alcunha também atribuída à deusa da alvorada (Eos). J.P. Mallory e D.Q. Adams (1997) também propuseram uma etimologia baseada na ligação com a deusa indo-europeia da alvorada, a partir de *abhor- (muito), e *dhei, (brilhar). Diversas etimologias especulativas não gregas foram sugeridas por acadêmicos. A ligação com a religião fenícia alegada por Heródoto (I.105, 131) levou a tentativas inconclusivas de se derivar o Afrodite grego com um Aštoret semita, através de uma hipotética transmissão hitita. Outra etimologia semita compara o assírio barīrītu, nome de um demônio feminino encontrado em textos babilônicos médios e tardios. O nome provavelmente significaria "aquela que (vem) no alvorecer", o que identificaria Afrodite em sua personificação como a estrela d'alva, um paralelo importante que ela partilha com a Ishtar mesopotâmica. Outra etimologia não grega sugerida por M. Hammarström aponta para o etrusco, comparando (e)pruni (senhor), uma denominação honorífica etrusca que passou para o grego na forma prítane (em grego: πρύτανις). Isto faria com que a origem do teônimo fosse uma expressão honorífica, "a senhora". O linguista sueco Hjalmar Frisk, no entanto, rejeita esta etimologia, considerando-a "implausível". O Etymologicum Magnum apresenta uma pseudo-etimologia medieval que explicaria o nome Aphrodite como derivado do composto ἁβροδίαιτος, habrodiaitos ("aquela que vive delicadamente"), de ἁβρός, habros + δίαιτα, diaita - explicando a alternância entre b e ph como uma característica "familiar" do grego, "obviamente [derivada] dos macedônios." História Afrodite é uma deusa tão velha quanto o tempo, pertencendo a uma linhagem de deusas femininas que representavam a fertilidade na Antiguidade. O culto de Afrodite foi provavelmente baseado no culto de Astarte da Fenícia, que era venerada em todo o Oriente Médio como soberana do mundo. Entretanto, como o sincretismo religioso era muito forte naquela época, não se sabe com exatidão qual a origem das deusas. Por exemplo, no Império Babilônico, Astarte foi relacionada à deusa Ishtar. Ela também seria associada com a deusa síria Atargatis e com a deusa do amor suméria, Inanna. Segundo Pausânias, os assírios foram a primeira civilização a fundar um culto de Afrodite, tese que faz sentido, tendo em vista uma pesquisa que revela a influência mesopotâmica sobre a sociedade e mitologia grega, antes de 700 a.C.. O culto de Afrodite na Grécia provavelmente foi introduzido da Síria para as ilhas de Chipre, Citera, Corinto e outras, de onde se espalhou por toda a região grega. Então, Afrodite teria "nascido" no Mediterrâneo, local em que as deusas mencionadas foram adoradas. Afrodite também é bastante semelhante à deusa Hator do Egito, que era vista como Afrodite pelos gregos. Vê-se que Astarte, Ishtar, Inanna, Hator e Afrodite eram deusas de atributos comuns, que geralmente eram vistas como uma só deusa, sendo difícil determinar com precisão quem influenciou quem, embora os historiadores concordem que o culto de Afrodite é de origem oriental. No Império Romano, outro sincretismo ocorreria e Afrodite seria transformada em Vênus. Apesar dos esforços dos mitógrafos no sentido de “helenizar“ Afrodite, esta sempre traiu sua procedência asiática. Já na Ilíada isso é bem perceptível. Sua proteção e predileção pelos troianos e particularmente por Eneias, fruto de seus amores com Anquises, denotam sua origem não grega. No Hino Homérico a Afrodite, o caráter asiático da deusa ainda é mais claro: apaixonada pelo herói troiano Anquises, avança em direção a Troia, com o nome Ida (que daria nome ao monte Ida), acompanhada de ursos, leões e panteras. Sua hierofania voluptuosa transforma até os animais, que se recolhem à sombra dos vales, para se unirem no amor que transborda de Afrodite. Essa marcha amorosa da deusa seguida por animais em direção a Ílion (Troia) mostra nitidamente que ela é uma Grande Mãe semelhante a Astarte, que era representada escoltada por animais. Seu amante Adônis nos leva igualmente à Ásia, uma vez que Adônis é mera transposição do babilônico Tamuz, o favorito de Istar-Astarté, de que os gregos modelaram sua Afrodite. Como se pode observar, desde suas características e mitos mais importantes, Afrodite nos aponta para a Ásia. A helenização a transformou de Grande Mãe a um dos onze deuses submetidos a Zeus e com papel reduzido às paixões humanas. Porém, quando é esculpida e pintada com seus golfinhos, o bode, o ganso, o cisne e a pomba, pode-se vislumbrar claramente sua antiga linhagem. Assim a deusa, bem como suas antepassadas, é um símbolo das forças irrefreáveis da fecundidade, não propriamente em seus frutos, mas em função do desejo ardente que essas mesmas forças irresistíveis ateiam nas entranhas de todas as criaturas. Eis o motivo por que a deusa é frequentemente representada escoltada por animais ferozes. Atributos e epítetos "Foi ela que deu o germe das plantas e das árvores, foi ela que reuniu nos laços da sociedade os primeiros homens, espíritos ferozes e bárbaros, foi ela que ensinou a cada ser a unir-se a uma companheira. Foi ela que nos proporcionou as inúmeras espécies de aves e a multiplicação dos rebanhos. O carneiro furioso luta, às chifradas, com o carneiro. Mas teme ferir a ovelha. O touro cujos longos mugidos faziam ecoar os vales e os bosques abandona a ferocidade, quando vê a novilha. O mesmo poder sustenta tudo quanto vive sob os amplos mares e povoa as águas de peixes sem conta. Vênus foi a primeira em despojar os homens do aspecto feroz que lhes era peculiar. Dela foi que nos vieram o atavio e o cuidado do próprio corpo." — Ovídio. A citação de Ovídio mostra que Afrodite era vista como a responsável pela perpetuação da vida, abrangendo toda a Natureza. De acordo com os pontos de vista cosmogênicos da natureza de Afrodite, ela era a personificação dos poderes generativos da natureza e mãe de todos os seres vivos. Um traço dessa noção parece estar contido na tradição no concurso de Tifão com os deuses, onde Afrodite metamorfoseou-se em um peixe, animal que foi considerado possuindo as maiores potências geradoras. Mas de acordo com a crença popular dos gregos e suas descrições poéticas, ela era a deusa do amor, que colocou a paixão nos corações dos deuses e dos homens, e por este poder reinou sobre toda a criação viva. É de notar que por Afrodite ter sido considerada nascendo do mar, ela foi venerada desde tempos remotos como deusa do mar e da navegação. No entanto, ela não é uma divindade marinha no sentido em que o são Posídon e outros senhores do mar. A mesma majestade com que ela enche toda a natureza fez do mar o local de sua aparição. Seu advento aplaina as ondas e faz a superfície das águas fulgir como uma joia. Ela é o divino encanto do mar calmo e da feliz travessia, assim como é o encanto da natureza florescente. Ela é denominada “deusa do mar sereno” e faz com que os navios cheguem em boa hora ao porto; por isso ela foi chamada de “deusa da boa viagem”, Euploia, “que assegura a navegação propícia”, Acraia (Akraía), “deusa dos promontórios” (porque lhe dedicavam templos em locais que são bem visíveis do mar), Pôntia (Pontía) e Equórea, isto é, “marítima”, e Nauarca (Nauarkhís), “senhora das naus”. Como deusa da beleza, ela representava a beleza feminina ideal no imaginário grego, sendo considerada a mais bela das mulheres – não de modo virginal, como Ártemis, tampouco toda decoro, como as deusas casadas e da maternidade, antes plena de uma pura beleza e graça feminina, rodeada pelo úmido brilho do prazer, eternamente moça, livre e feliz, tal como nasceu do mar imenso. Desde Homero, os poetas a chamam de “dourada” e lhe descrevem como a deusa “amiga dos sorrisos” ("filomeida"; philommeidés), ou “de doce sorriso” ("glicimelicos"; glykymeílikhos). Helena a reconhece pela encantadora beleza do colo e dos seios e pelo brilho dos olhos.[16] As cárites, assim como as horas, que representam amáveis e benfazejos espíritos do crescimento, são suas servidoras e companheiras. Dançam com ela, banham-na, ungem-na e tecem-lhe as vestes. O nome das cárites significa “graça e sedução”, que são justamente os dons com que Afrodite brinda Pandora, a primeira mulher. A beleza de Afrodite frequentemente inspirava os talentos e gênio dos antigos artistas, que rivalizavam para produzir a beleza ideal. As obras da Antiguidade que ainda existem são divididas pelos arqueólogos em várias classes, de acordo com a representação da deusa na posição de pé e nua, ou tomando banho, ou semi-nua, ou vestida com uma túnica, como ela foi representada nos templos de Citera, Esparta e Corinto. A pureza dos sentimentos era muito preservada pelos gregos. O amor tinha que ser honroso, e Afrodite garantia a nobreza dos sentimentos. Esse pensamento parece estar contido em mitos como o de Anaxarete e Narciso: várias jovens se apaixonaram por Narciso mas ele as menosprezava. As garotas, revoltadas, pediram vingança a Afrodite, que o fez se apaixonar pelo próprio reflexo. Porém, com a evolução do mito, ela passou a simbolizar não apenas o amor puro, mas o amor passional, a paixão desenfreada e nociva, a loucura dos sentimentos. Isso fica evidente no mito de seu adultério com Ares. A lenda traz uma grande simbologia, o amor e a guerra juntos em um idílio; a paixão e o ódio; a beleza e a rudeza; Afrodite e Ares tornaram-se amantes fervorosos e inseparáveis, fazendo a deusa receber o epíteto de Areia e ser feita uma deusa da guerra em Esparta. Por outro lado, ela distingue-se muito claramente de Eros, que o mito atribui-lhe como filho. Eros representa o espírito divino do desejo de procriar e do ato amoroso. Mas o mundo de Afrodite, como magistralmente captou Walter Otto, "é de outra ordem, muito mais amplo e rico. Neste mundo, a ideia da essência e do poder divino não emana, como no caso de Eros do sujeito desejante, e sim do amado. Afrodite não é a amante, ela é a beleza e a graça risonha, que fascina. Nesse caso, o que vem primeiro não é o impulso de possuir, mas sim o encanto da aparência que leva de forma irresistível à união. O segredo da completude e unidade do mundo de Afrodite reside em que na atração não atua um poder demoníaco em virtude do qual um ser insensível agarra sua presa. O atraente quer entregar-se, o amável se inclina para aquele que sensibilizou com lânguida franqueza, que o torna ainda mais irresistível". Afrodite Urânia e Afrodite Pandemos No final do século V a.C., os filósofos passaram a considerar Afrodite como duas deusas distintas, não individualizando seu culto: Afrodite Urânia, nascida da espuma do mar após Cronos castrar seu pai Urano, e Afrodite Pandemos (ou Pandemia), a Afrodite comum "de todos os povos", nascida de Zeus e Dione. Entre os neoplatônicos e, eventualmente, seus intérpretes cristãos, a Afrodite Urânia é vista como uma Afrodite celeste, representando o amor de corpo e alma, enquanto a Afrodite Pandemos está associada com o amor puramente físico. A representação da Afrodite Urânia, com um pé descansando sobre uma tartaruga, mais tarde foi tida como a descrição emblemática do amor conjugal; a imagem é creditada a Fídias, em uma escultura criselefantina feita para Elis, numa única citação de Pausânias. Assim, de acordo com o personagem Pausânias no Banquete de Platão, Afrodite são duas deusas, uma mais velha a outra mais jovem. A mais velha, Urânia, é a "celeste" e inspira o amor/Eros homossexual masculino (e, mais especificamente, os efebos); a jovem é chamada Pandemos e dela emana todo o amor às mulheres. Pandemos é a Afrodite comum. Vênus No período helenístico, a cultura grega dominou a Macedônia, a Síria e o Egito. Assim, há uma predominância das artes e ciências gregas no mundo ocidental. Mais tarde, com a expansão de Roma, cada um dos reinos daqueles territórios foi absorvido pela nova potência romana. Antes disso, porém, os próprios romanos adotaram traços da cultura grega, e mais tarde do helenismo, daí a cultura grega ser depois perpetuada pelo Império Romano. Os romanos apropriaram Afrodite para si durante a conquista das cidades gregas do sul da Itália peninsular, como Pesto, e, em seguida, na Sicília, onde a deusa foi venerada em Siracusa. Vênus pode ter sido a deusa sucessora de uma divindade etrusca em um ponto muito cedo na história romana. No entanto, o conceito romano de Vênus e seus mitos são baseados nas obras literárias da mitologia grega em relação a Afrodite. Vênus é um substantivo latino que significa amor sexual ou desejo sexual. Foram os romanos que fizeram da divindade também uma deusa militar, além da beleza, do amor, da fertilidade e da sedução. Na mitologia romana, ela é a mãe divina de Eneias, o ancestral do fundador de Roma, Rômulo. Em Roma, ela era venerada em um templo no Capitólio. Júlio César foi um dos imperadores que adotou Vênus como sua protetora. Seu mês sagrado era abril, porque era quando as flores abriam ou floresciam. O Venerália, sua festa, começou no dia primeiro de abril, e murta e rosas eram suas flores sagradas. O monte Érix, na Sicília, foi um local de importante culto a Vênus no período romano. Pompeia também foi um importante local de culto a Vênus nesse período, sendo seu nome oficial Colônia Cornélia Venéria dos Pompeanos (Colonia Cornelia Veneria Pompeianorum), indicando a importância de Vênus como guardiã da cidade. Um culto romano a Vênus foi estabelecido em Cartago, durante os estágios iniciais da Segunda Guerra Púnica entre Roma e Cartago. Após a derrota terrível dos romanos na Batalha do Lago Trasimeno, o oráculo sibilino sugeriu que a estátua Ericina (Vênus) que estava em Erice, ainda em território cartaginês, fosse tomada de modo a persuadir Erice a mudar sua lealdade de Cartago para Roma. Em 217 a.C., os romanos tomaram Erice e com a cidade capturaram uma imagem da bela deusa. Como vimos anteriormente no mito da fundação de Roma, Vênus era uma protetora divina de seu filho Eneias, por isso a chegada da estátua pode ter sido interpretada uma espécie de regresso a casa. Na Eneida, Vênus leva Eneias ao Lácio em sua forma celeste, como a estrela da manhã mais proeminente, brilhando diante dele no céu amanhecer. Sexta-feira, que em italiano é venerdì, é o dia da semana consagrado a Vênus. Venerdì nos vem do latim Morre Veneris. Vênus também passou a ser identificada com a deusa germânica Freia (Friijo), portanto, sexta-feira (Friday) em inglês. Mitologia Nascimento Afrodite, segundo algumas versões de seu mito, teria nascido perto de Pafos, na ilha de Chipre, motivo pelo qual ela é chamada de "Cípria", especialmente nas obras poéticas de Safo. Seu principal centro de culto era exatamente em Pafos, onde haviam sido cultuadas desde o início da Idade do Ferro as deusas Ishtar e Astarte. Outras versões do mito, no entanto, afirmam que a deusa teria nascido próximo à ilha de Citera. A ilha era um entreposto comercial e cultural entre Creta e o Peloponeso, portanto estas histórias podem ter preservado traços da migração do culto de Afrodite do Levante até a Grécia continental. Na versão mais famosa do seu nascimento narrada por Hesíodo, ela teria surgido através de uma castração: Cronos teria cortado os órgãos genitais de seu pai Urano e os arremessado para dentro no mar. A espuma surgida da queda dos genitais na água, que alguns autores identificaram como sendo esperma, teriam fecundado Tálassa, personificação do mar, e dessa espuma originou-se Afrodite e outros seres como as Meliádes e Erínias. Nas palavras de Hesíodo, "o pênis (...) aí muito boiou na planície, ao redor branca espuma da imortal carne ejaculava-se, dela uma virgem criou-se." Esta virgem se tornou Afrodite, flutuando até as margens sobre uma concha de vieira. Esta imagem, de uma "Vênus erguendo-se das águas do mar" (Vênus Anadiômene), já totalmente madura, foi uma das representações mais icônicas de Afrodite, celebrizada por uma pintura muito admirada de Apeles, já perdida, porém descrita na História Natural de Plínio, o Velho. A versão mais antiga do nascimento de Afrodite, narrada por Homero e outros autores, ela seria filha de Zeus e Dione, a deusa das ninfas cujo oráculo situava-se em Dodona. A própria Afrodite é por vezes referida como "Dione", que parece ter sido uma forma feminina de "Dios", o genitivo de Zeus em grego, e poderia apenas significar "a deusa", de maneira genérica. A própria Afrodite seria então uma equivalente de Reia, a mãe-terra, e que Homero teria deslocado para o Olimpo. Alguns estudiosos levantaram a hipótese de um panteão proto-indo-europeu, no qual a principal divindade masculina (Di-) representaria o céu e o trovão, e a principal divindade feminina (forma feminina de Di-) representaria a terra, ou o solo fértil. Depois que o culto a Zeus tomou o lugar do oráculo situado no bosque de carvalhos em Dodona, alguns poetas o teriam transformado em pai de Afrodite. Personalidade Afrodite nunca foi criança, sendo constantemente retratada nascendo já adulta, nua e bela. Nos mitos, é normalmente retratada como vaidosa, sedutora, charmosa, uma amante fervorosa que, quando amava, o fazia incondicionalmente. No Hino Homérico de número 6 dedicado a Afrodite, Homero narra que em todo lugar que a deusa pisa com seus pés delicados as flores nascem. Homero também relata uma Afrodite bastante maternal, chegando a se sacrificar pelo seu filho Eneias, entrando em combate para protegê-lo. Em mitos posteriores, ela passou a ser retratada como temperamental e facilmente ofendida, vingando-se e punindo mortais como Psiquê. Embora seja casada, Afrodite é um das poucas deusas do panteão que é frequentemente infiel ao marido. Casamento com Hefesto De acordo com uma versão da história de Afrodite, por causa de sua imensa beleza, Zeus teme que os outros deuses passassem a brigar uns com os outros por causa dela. Para evitar isso, ele a obriga a casar-se com Hefesto, o deus ferreiro, sem senso de humor e feio. Em outra versão da história, Afrodite se casa com Hefesto depois que sua mãe, Hera, lança-o do Olimpo, considerando-o muito feio e deformado para habitar com os deuses. Ele se vinga prendendo a mãe num trono mágico que construiu. Em troca de sua libertação, ele pede para ser-lhe dada a mão de Afrodite em casamento. Hefesto fica feliz por ser casado com a deusa da beleza e forja para ela belas joias, incluindo o cestus, um cinto de ouro que faz dela ainda mais irresistível para os homens. O descontentamento de Afrodite com seu casamento arranjado faz com que busque outras companhias masculinas, na maioria das vezes Ares. No conto cantado pelo bardo na sala de Alcino, o deus do sol Hélio uma vez espiou Ares e Afrodite amando um ao outro secretamente na sala de Hefesto, e ele prontamente informou o incidente ao cônjuge olímpico de Afrodite. Hefesto conseguiu pegar o casal em flagrante e para tanto ele fez uma rede especial, fina e resistente como o diamante para pegar os amantes ilícitos. No momento apropriado, esta rede foi jogada e encurralou Ares e Afrodite em um abraço apaixonado. Mas Hefesto ainda não estava satisfeito com a sua vingança — ele convidou os deuses e deusas do Olimpo para ver o casal infeliz. Alguns comentaram a beleza de Afrodite, outros opinaram em trocar de lugar ansiosamente com Ares, mas todos zombaram e riram dos dois. Uma vez que o casal foi solto, Ares, embaraçado, fugiu para a sua pátria, Trácia, e Afrodite, envergonhada, fugiu para Chipre. Divórcio A história de Homero na Odisseia sobre o adultério de Afrodite parece ter terminado com seu divórcio de Hefesto. De fato, na época da Guerra de Troia, Homero descreve a deusa como consorte de Ares, e a esposa de Hefesto sendo Aglaia. Hefesto não teria aceitado a traição da deusa com Ares pacificamente e alguns mitos relatam o deus perseguindo a filha de Afrodite e Ares, Harmonia, que teria sido gerada ainda quando Hefesto e Afrodite eram casados. Hefesto amaldiçoou Harmonia e seus descendentes presenteando-a com um colar amaldiçoado no dia de seu casamento. Harmonia só conseguiu viver em paz com seu marido, Cadmos, depois que os deuses a levaram para viver numa ilha isolada. Nas histórias que relatam Afrodite como consorte de Ares, Harmonia foi a única filha nascida durante o casamento de Afrodite e Hefesto. Os outros, Eros (ou Anteros), Deimos e Fobos parecem ter nascido depois. Culto O centro do culto de Afrodite foi Chipre. Afrodite era adorada na maioria das cidades de Chipre, bem como em Citera, Esparta, Tebas, Delos e Elis, e seu templo mais antigo estava em Pafos. Homero se refere à deusa como o Cípria no século VIII a.C. e ela foi chamada de Páfia no século VI a.C. Inscrições no seu santuário em Palea Pafos referem-se a ela simplesmente como Wanassa ("a senhora"). O templo de Afrodite estava em uma colina a cerca de dois quilômetros para o interior, com vista para o mar. A cidade de Palea logo surgiu ao redor do templo. Seus símbolos incluem a murta, o golfinho, o pombo, o cisne, a rosa, a romã, limeira, pérolas e joias. Seu festival principal era chamado de Afrodisia e era celebrado por toda a Grécia. O festival ocorria durante o mês de Hekatombaion, que reconhecemos como a partir da terceira semana de junho à terceira semana de julho no calendário gregoriano. Fontes textuais mencionam explicitamente o festival em Corinto e em Atenas, onde as muitas prostitutas que residiam na cidade comemoram o festival como um meio de adorar a sua deusa padroeira. No templo de Afrodite no cume da Acrópole de Corinto (antes da destruição romana da cidade em 146 a.C.), ter relações sexuais com suas sacerdotisas foi considerado um método de adoração a Afrodite. Esse ritual é conhecido como prostituição sagrada, e as sacerdotisas usavam o dinheiro arrecadado para manter os templos de Afrodite. O templo na Acrópole de Corinto não foi reconstruído quando a cidade foi restabelecida sob o domínio romano em 44 a.C., mas os rituais de fertilidade provavelmente continuaram na principal cidade perto da ágora. O eufemismo em grego é hieródula (hierodoule), "escravo sagrado". A prática era uma parte inerente dos rituais devidos aos antepassados de Afrodite no Oriente, a sumeriana Inanna e acadiana Ishtar, em cujo templo as sacerdotisas eram as "mulheres de Ishtar", ishtaritum. A prática foi documentada na Babilônia, Síria e Palestina, nas cidades fenícias e nos centros de culto a Afrodite na Grécia, em Chipre, Citera, Corinto e na Sicília; a prática, porém, não é atestada em Atenas. Por causa da prostituição sagrada, Afrodite era vista em toda parte como a deusa padroeira da cortesã. Houve um caso de um nobre que ganhou um jogo nas Olimpíadas e, como forma de agradecer a Afrodite por tê-lo ajudado, doou para seu templo mais de cem prostitutas. A poetisa Safo, uma das mais famosas da Grécia Antiga e supostamente lésbica, geralmente se referia a Afrodite como sua deusa protetora, o que fez alguns autores verem que Afrodite também poderia ser vista como padroeira das lésbicas. Mas isso é algo difícil de determinar, porque existem poucos relatos na sociedade grega de homossexualidade feminina, que era relegada à obscuridade, diferentemente da homossexualidade masculina. No caso dos homens homossexuais, Afrodite era provavelmente vista como sua padroeira: seus filhos Erotes, eram símbolos do homoerotismo e protegiam o amor homossexual; e Platão cita Afrodite Urânia como sendo a deusa do amor divino e do amor homossexual. Durante os festivais de primavera dedicados a Afrodite e Adônis, procissões separadas de homens e mulheres caminhavam ao longo da Via Sacra de Nova Pafos para o santuário de Afrodite em Velha Pafos, onde havia jogos e concursos de música e poesia. Esta tradição sobrevive (exceto a prostituição) no moderno festival de primavera, Antistíria (Anthistiria), que é especialmente popular em Ctíma Pafos. O santuário de Afrodite em Velha Pafos continuou a florescer na época romana. Vários imperadores romanos honraram-no, tendo sido visitado por Tito em 69 d.C., quando o futuro imperador estava em seu caminho para o Egito. Ele consultou o oráculo de Afrodite, que afirmou que ele teria um grande futuro. O santuário foi reconstruído pelos romanos após o terremoto de 76 ou 77 d.C., em um projeto que preservou a arquitetura oriental do original. O culto de Afrodite sobreviveu em Velha Pafos até o século IV, quando o imperador Teodósio (r. 378–395) proibiu o paganismo. Não se sabe quando o culto de Afrodite foi suprimido ou se a população local resistiu à proibição. Afrodísias Afrodísias era uma pequena cidade na Cária, agora parte da Turquia. Localizada perto de uma pedreira de mármore, Afrodísias tornou-se um centro de produção de esculturas na época helênica e romana. A escola de esculturas da cidade era popular, e muitas estátuas foram encontradas intactas na região da ágora. O ponto focal da cidade, como o nome sugere, era um enorme Templo de Afrodite, enriquecido com muitas esculturas, sarcófagos e pedras que ilustravam passagens mitológicas. Entre as esculturas notáveis, está uma estátua micênica de uma deusa da fertilidade que foi identificada como sendo uma antecessora de Afrodite, ou a própria Afrodite, adorada na região. Poucos aspectos do edifício original do templo sobrevivem, pois posteriormente o templo foi convertido numa basílica pelos bizantinos. A cidade se recusou inicialmente, mas cedeu e foi abandonada no século XIV. Hoje é um sítio arqueológico cheio de edifícios notáveis, incluindo o estádio de atletismo, que é dito como sendo provavelmente o mais bem preservado do seu tipo no Mediterrâneo. Culto moderno a Afrodite Como uma dos deusas do Olimpo, ela é uma deidade importante, e o culto de Afrodite (ou Aphroditi) como uma deusa viva é uma das devoções mais proeminentes no helenismo moderno. Os helenistas revivem as práticas religiosas da Grécia Antiga nos dias de hoje. A adoração a Afrodite, hoje, difere das práticas devocionais dos gregos antigos em várias maneiras. Entre os helênicos modernos, a visão de Afrodite como uma deusa da fertilidade e do desejo, em grande medida deu lugar a uma visão mais suave dela como deusa do amor e da paixão. Coisas como prostituição ritual são pensados como, na melhor das hipóteses, completamente anacrônicas. Em vez disso, os devotos helenistas modernos fazem oferendas para ela e invocam o seu nome e suas bênçãos para relacionamentos amorosos, inclusive sexualmente monógamos. Aqui, as convicções éticas de helênicos modernos são inspirados por virtudes gregas antigas de auto-controle e moderação. Helênicos na atualidade celebram a sua devoção religiosa a Afrodite durante três dias principais de festa. Afrodísia é o seu principal dia de festa e é celebrado com o calendário Ático no dia 4 de Hécatombéon, caindo no calendário gregoriano entre os meses de julho e agosto, dependendo do ano. Adônia, um festival conjunto de Afrodite e seu parceiro Adônis, é comemorado na primeira lua cheia após o equinócio da primavera no hemisfério norte, frequentemente na mesma semana em que é celebrada a Páscoa cristã. O quarto dia de cada mês é considerado um dia sagrado para Afrodite e seu filho Eros. Oferendas para Afrodite para fins devocionais podem incluir incenso, frutas (especialmente maçãs e romãs), flores, rosas perfumadas, vinho doce do deserto (particularmente o vinho Commandaria de Chipre) e bolos feitos com mel. Na Wicca, Afrodite também é adorada como deusa do amor e personificação da deusa mãe.



Fonte:https://pt.wikipedia.org/wiki/Afrodite



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