Calendário Pagão: 27 de Março - Honras a Deusa Athena
Atena (no grego ático: Αθηνά, transl. Athēnā ou Aθηναία, Athēnaia; ver seção Nome), também conhecida como Palas Atena (Παλλάς Αθηνά) é, na mitologia grega, a deusa da civilização, da sabedoria, da estratégia em batalha, das artes, da justiça e da habilidade. Uma das principais divindades do panteão grego e um dos doze deuses olímpicos, Atena recebeu culto em toda a Grécia Antiga e em toda a sua área de influência, desde as colônias gregas da Ásia Menor até as da Península Ibérica e norte da África. Sua presença é atestada até nas proximidades da Índia. Por isso seu culto assumiu muitas formas, além de sua figura ter sido sincretizada com várias outras divindades das regiões em torno do Mediterrâneo, ampliando a variedade das formas de culto. A versão mais corrente de seu mito a dá como filha partenogênica de Zeus,e Métis Atena séria a próxima rainha do Olimpo. Temendo seu poder, seu pai engoliu Métis enquanto ainda estava grávida da deusa; fez isso através de um jogo divino, em que cada um deles se transformaria em um animal. Métis, nada prudente se transformou em uma mosca, então foi engolida e se alojou na cabeça de Zeus, com o passar dos anos o senhor dos céus começou a sentir uma dor de cabeça insuportável então pediu para Hefesto o deus ferreiro para que abrisse sua cabeça e de lá já adulta e plenamente armada saiu a deusa. Jamais se casou ou tomou amantes, mantendo uma virgindade perpétua. Era imbatível na guerra, nem mesmo Ares lhe fazia páreo. Foi padroeira de várias cidades, mas se tornou mais conhecida como a protetora de Atenas e de toda a Ática. Também protegeu vários heróis e outras figuras míticas, aparecendo em uma grande quantidade de episódios da mitologia. Foi uma das deusas mais representadas na arte grega e sua simbologia exerceu profunda influência sobre o pensamento grego, em especial nos conceitos relativos à justiça, à sabedoria e à função civilizadora da cultura e das artes, cujos reflexos são perceptíveis até nos dias de hoje em todo o ocidente. Sua imagem sofreu várias transformações ao longo dos séculos, incorporando novos atributos, interagindo com novos contextos e influenciando outras figuras simbólicas; foi usada por vários regimes políticos para legitimação de seus princípios, e penetrou inclusive na cultura popular. Sua intrigante identidade de gênero tem sido de especial apelo para os escritores ligados ao feminismo e à psicologia e algumas correntes religiosas contemporâneas voltaram a lhe prestar verdadeiro culto. O nome Atena, cujo significado é desconhecido e possivelmente tem uma origem asiática, é a versão portuguesa do grego ático Αθηνά, Athēnā, um nome que também era encontrado em outras variantes: Aθηναία, Athēnaia; Aθηναίη, Athēnaiē (no grego épico); Aθήνη, Athēnē (no grego jônico); Aθάνα, Athana (no grego dórico). Também era conhecida como Palas Atena (Παλλάς Αθηνά). Tem sido objeto de longa disputa acadêmica se a cidade de Atenas, da qual era a padroeira, tomou seu nome da deusa ou se foi a cidade que lhe emprestou seu nome. Em vista da ocorrência comum de sufixos "ena" para a denominação de localidades, é possível que a última hipótese seja a verdadeira. O primeiro registro conhecido do nome da deusa foi encontrado em Cnossos, em uma tabuleta em Linear B, a antiga escrita dos povos micênicos usada entre os séculos XV a.C. e XII a.C. Ali ele aparece como a-ta-na po-ti-ni-ja, que tem sido traduzido como "Senhora de Atenas" ou "Senhora Atena". Para os atenienses ela era mais do que uma das muitas deusas do panteão grego, era "a" deusa, he theos. O significado do nome Palas é obscuro, às vezes é traduzido como "donzela", outras como "aquela que brande armas", e pode ter também uma origem não-grega. Uma tradição relatada pelo Pseudo-Apolodoro conta que o nome Palas pertencia originalmente a uma filha de Tritão, uma divindade marinha por sua vez filho de Posídon e Anfitrite. Ambas teriam sido criadas juntas por Tritão e, compartilhando de um caráter belicoso semelhante, passavam o tempo entretidas em atividades militares, o que certa vez acabou por conduzi-las a uma disputa. Estando Palas prestes a desferir um golpe sobre Atena, Zeus interveio distraindo-a com sua aegis, no que Atena, aproveitando o lapso, feriu-a de morte. Extremamente entristecida com o sucedido, Atena modelou uma estátua com as feições de Palas, a que chamou de Paládio, e a envolveu com a aegis que lhe havia precipitado a morte, instalando a obra ao lado do trono de Zeus, rendendo-lhe honras e tomando o nome da amiga como uma homenagem. Mais tarde Electra, perseguida por Zeus, buscou refúgio junto a esta estátua, mas Zeus arremessou-a sobre a terra, onde Ilus, vendo-a cair diante de si, tomou isso como sinal divino, fundando no local a cidade de Troia e preservando a estátua em um santuário. Também foi dito que ela adotara o nome do gigante alado Palas, a quem ela matou por ele ter atentado contra a sua virgindade. Depois disso ela o teria esfolado, fazendo da pele a sua aegis, arrancado suas asas para atá-las aos seus próprios pés e assumido o seu nome, pelo que sua façanha seria imortalizada. Epítetos Na vasta região em que Atena foi cultuada recebeu uma variedade de epítetos. Segue uma lista incompleta, excluindo-se também os simplesmente toponímicos: Aithyia, a que mergulha, associado à sua função de instrutora nas artes da navegação e construção de navios; Agelkeia, líder ou protetora do povo; Agoraia, protetora das assembleias; Alalkomenêïs, poderosa defensora; Alkis, a forte; Amboulia, possivelmente significando aquela que atrasa a morte; Anemôtis, a que domina os ventos; Areia, guerreira; Arkhegetis, fundadora; Axiopoinos, vingadora; Chalkioikos, a que tem uma casa de bronze; Chalinitis, a que domina os cavalos através das rédeas; Erganê, trabalhadora, associado à sua função de instrutora da humanidade em todos os trabalhos manuais e artísticos; Glaucopis, de olhos brilhantes, olhos de mocho-galego (γλαύξ); Hippia, equestre, domadora de cavalos; Hygieia, deusa da saúde; Mêchaneus, habilidosa em invenções; Nike, vitoriosa; Paiônia, curadora; Parthenos, virgem; Polias ou Poliouchos, protetora das cidades; Promakhos, campeã ou aquela que guerreia na vanguarda; Sôteira, salvadora; Tritô, nascida da cabeça; Xenia, protetora dos estrangeiros e patrona da hospitalidade. Mito Origens A sua citação em uma tabuleta em Linear B atesta que Atena estava presente entre os gregos desde uma data muito antiga, antes mesmo de a civilização grega tomar a forma pela qual se tornou célebre. Diversos pesquisadores têm tentado traçar as origens de seu culto, mas nada pôde ser provado conclusivamente; ele pode ter derivado da adoração da Deusa Serpente ou da Deusa do Escudo da Civilização Minoica, ou da Grande Mãe dos povos indo-europeus, ou ser uma importação diretamente oriental, a partir da identificação de alguns de seus principais atributos primitivos, a guerra e a proteção das cidades, com os de várias outras deusas cultuadas no Oriente Próximo desde a pré-história. Sua história entre os gregos até o fim da Idade das Trevas é de difícil reconstrução, mas é certo que quando surgem as primeiras descrições literárias sobre Atena, no século VIII a.C., seu culto já estava firmemente estabelecido não só em Atenas, mas em muitos outros pontos da Grécia, como Argos, Esparta, Lindos, Lárissa e Ílion, geralmente lhe atribuindo uma função de protetora das cidades e especificamente das cidadelas, tendo um templo no centro das cidadelas muradas, e sendo, por extensão, uma deusa guerreira. Encontra-se na Teogonia de Hesíodo o mais antigo relato conhecido sobre o nascimento de Atena, apresentado em duas variantes. Na primeira, Atena seria fruto da união de Métis e Zeus. Métis, uma personificação da prudência e do bom conselho e a mais sábia dos imortais, foi a primeira esposa de Zeus, o rei dos deuses. Entretanto, sendo avisado por Gaia, a terra, e Urano, o céu, de que o filho que haveria de nascer de Métis após Atena seria mais poderoso que o pai, e ele por conseguinte corria o risco de ser destronado, assim como ele destronara seu próprio pai Cronos. Através de um estratagema Zeus enganou Métis e a engoliu. Não obstante, Métis gerou Atena no ventre de Zeus, e a filha veio à luz pela cabeça do pai às margens do rio Tritão, já completamente adulta e armada. Na segunda versão Hesíodo disse que Atena fora filha exclusivamente de Zeus, nascendo logo após seu casamento com Hera, o que teria sido causa de um confronto com a esposa. Ela, injuriada, também deu nascimento a um filho sem unir-se ao esposo: Hefesto. Narrativas mais tardias enriqueceram as circunstâncias do seu nascimento com novos eventos, dizendo que antes de Atena nascer Zeus começou a sentir uma insuportável dor de cabeça, e pediu que Hefesto lhe abrisse o crânio com um machado. Outros relatos colocam Hermes, Prometeu ou Palamon como assistentes neste parto incomum. Também foi apresentada como filha do gigante Palas. Uma versão do mito cultivada na Líbia a colocou como filha de Posídon com a ninfa Tritonis, e, em certa ocasião, zangada com o pai, teria pedido para Zeus adotá-la. Sua conexão com o rio Tritão fez com que cada cidade onde corresse um rio com este nome, e eram muitas, reivindicasse ser o seu local de nascimento. A rápida expansão do seu culto por uma vasta região explica as variantes sobre o seu nascimento e as múltiplas histórias míticas onde ela tomou parte, que certamente incorporam lendas locais. Do período arcaico em diante, até a era romana, o mito de Atena foi significativamente ampliado e enriquecido com uma profusão de outras histórias. Na Ilíada de Homero são narrados alguns eventos com a participação de Atena. Foi mostrada como sentando à direita de seu pai Zeus e provendo-o de aconselhamento; conduziu a carruagem de Diomedes e o incitou a ferir Ares, foi a responsável pela morte de Ájax, e estimulou os gregos contra os troianos misturando-se ao exército e proferindo gritos de guerra. Teve uma atuação indireta na captura do Paládio pelos gregos, que assegurou a queda de Troia, pois uma profecia dizia que enquanto o Paládio permanecesse em posse dos troianos a cidade seria inexpugnável. Sua manifestação mais importante foi para Aquiles: favoreceu-o na disputa com Agamemnon aconselhando que ele moderasse sua fúria, e colaborou na morte de Heitor enganando-o e devolvendo a espada para Aquiles. Também na Odisseia ela fez expressivas aparições. Foi a protetora de Odisseu em toda a longa e perigosa viagem de volta para casa, e quando ele chegou finalmente a Ítaca sem reconhecê-la, entregando-se ao desalento, a deusa o fez perceber que seu périplo havia terminado. Ela acrescentou que estava perpetuamente ligada a Odisseu pelo fato de que ele era tido como o mais astuto dos mortais, enquanto que ela era a mais sábia e engenhosa dentre os deuses. Também favoreceu Telêmaco, filho de Odisseu, disfarçando-se de Mentor, o seu tutor, aconselhando-o a ir informar-se sobre o destino de seu pai, profetizando que ele em breve estaria de volta, e mais tarde instruindo-o como agir contra os pretendentes de sua mãe Penélope. Sob o mesmo disfarce apresentou-se diante dos pretendentes no momento da luta final, incitando Odisseu contra eles e, transformando-se em andorinha, desviando suas lanças. Hesíodo referiu que Atena vestiu Pandora com um manto de prata e um maravilhoso véu bordado, pondo-lhe na cabeça uma guirlanda de flores e uma coroa de ouro fabricada por Hefesto. Foi uma aliada de Zeus na luta contra os Titãs, e mais tarde contra os Gigantes, encarregando-se de buscar a ajuda de Hércules, contribuindo na morte do gigante Alcioneu, e matando Encélado lançando sobre ele a ilha da Sicília. Pseudo-Apolodoro narrou que quando Cécrops tornou-se rei da Ática os deuses olímpicos decidiram repartir o reino a fim de estabelecerem seus cultos nas várias cidades. Posídon chegou primeiro à capital recém-fundada e com seu tridente feriu o solo da Acrópole, de onde brotou uma fonte de água salgada. Atena apareceu depois dele, mas reivindicou a posse da cidade plantando ali a primeira oliveira. Ambos iniciaram uma disputa, e Zeus designou como árbitros os olímpicos. Atenas foi declarada vencedora porque a oliveira foi considerada mais útil para os humanos. Assumiu a tutela da cidade e emprestou-lhe o seu nome. Mais tarde Atena foi encomendar armas a Hefesto, mas este, tomado de paixão pela deusa, tentou seduzi-la. Ela repeliu seu avanço, mas não obstante Hefesto ejaculou sobre a sua coxa. Atena limpou o sêmen e enojada arrojou o pano que usara sobre a terra. Gaia, a terra, em segredo gerou um filho da semente de Hefesto, Erictônio, planejando torná-lo imortal. Colocou-o dentro de um cesto, que confiou aos cuidados de uma filha de Cécrops, Pandroso, mas proibindo-a de olhar seu conteúdo. As irmãs de Pandroso, vencidas pela curiosidade, abriram o cesto mas se horrorizaram ante a visão de uma serpente envolvendo o bebê. O Pseudo-Apolorodo continuou a história dizendo que algumas versões do mito mostram em seguida as irmãs morrendo pela picada da serpente, ou tornadas loucas pela ira de Atena, que por fim as arremessou do alto da Acrópole. Atena então tomou a criança e a criou numa gruta sagrada. Ao chegar à idade adulta, Erictônio expulsou Anfictião e tornou-se rei de Atenas, quando introduziu o festival das Panatenaias, o mais importante dentre os festivais religiosos dedicados a Atena. A deusa também participou de um concurso de beleza junto com Afrodite e Hera, tendo como juiz Páris. Hera ofereceu a Páris o domínio sobre todos os reis da Terra se fosse a escolhida; Atena, a vitória em todas as guerras, mas Afrodite, prometendo casá-lo com Helena de Troia, a mais bela das mulheres, acabou vencendo. Vários personagens míticos foram punidos por Atena em consequência de profanações, húbris ou ultrajes à sua divindade, como as irmãs de Pandroso, há pouco citadas. Ájax, filho de Oileu, príncipe da Lócrida, por ter estuprado Cassandra dentro do santuário de Atena, foi punido com o naufrágio do seu barco, que a deusa atingiu com um raio. Seu povo também teve de pagar pela ofensa, sendo assolado por uma praga e sendo obrigado a expiá-la por mil anos enviando duas donzelas anualmente para serem sacrificadas pelos troianos. Para castigar Auge, sua sacerdotisa, que tivera relações sexuais dentro do seu santuário na Arcádia, tornou a região infértil até que o rei a expulsasse, vendendo-a como escrava. Pelo mesmo motivo mandou que Tideu matasse Ismene, princesa da Beócia. Ilus foi cego pela deusa por ter desvelado a estátua do Paládio, cuja contemplação era vedada aos mortais. Transformou Aracne em aranha por ela ter desafiado Atena em uma competição de bordado; transformou Mérope em uma coruja por ela ter ridicularizado os olhos cinzentos da deusa e zombado dos outros deuses; enlouqueceu Aias Telamanios porque ele ameaçara matar os líderes gregos durante a Guerra de Troia; matou Laocoonte e seus filhos mandando duas serpentes marinhas estrangulá-los, para impedir que ele revelasse aos troianos o segredo do Cavalo de Troia, e fez a peste desolar a Arcádia porque seu príncipe Teutis a ferira acidentalmente. Transformou Medusa em um monstro por ela ter gabado sua beleza como superior à de Atena, depois ajudou Perseu a matá-la e fixou sua cabeça em seu escudo (ou sua aegis, conforme outras versões), com o que aterrorizava seus inimigos. Por outro lado, Atena mostrou sua face benevolente favorecendo outros personagens. Para evitar que Corônis, princesa da Fócida, fosse violentada por Posídon, transformou-a em corvo. Também para proteger Niktimene de destino semelhante transformou-a em coruja e a tomou como seu animal simbólico. Levou Polibóia para o Olimpo e lhe conferiu a imortalidade; ajudou Argos, artesão de Iolco, a construir o navio que levou seu nome e conduziu os Argonautas; deu o sangue da Medusa para Asclépio a fim de que ele aumentasse seus poderes curativos; ensinou a Dédalo a arte da construção; ajudou Dânao a construir um barco para que fugisse da Argólida com suas filhas, e mais tarde as purificou pelo assassinato de seus maridos; inspirou Epeios para que construísse o Cavalo de Troia; ensinou a Eurínome a arte da tecelagem e concedeu-lhe a sabedoria, conseguindo para ela também um bom esposo; também ensinou às filhas de Coroneu e às de Pândaro a arte da tecelagem; restituiu a vida a Perdix sob a forma de um faisão em recompensa pelas invenções que havia transmitido à humanidade; cegou Tirésias por ele tê-la visto nua a se banhar, mas compensou-o concedendo-lhe o dom da profecia; deu dentes de dragão a Eetes, rei da Cólquida, e a Cadmo, rei de Tebas, para que eles dessem origem a uma raça de guerreiros; favoreceu Perseu em seu combate contra Medusa, esteve sempre pronta a auxiliar Hércules em seus Doze Trabalhos, foi de grande ajuda para os gregos durante a Guerra de Troia e em particular para Aquiles e Odisseu, como já foi mencionado e ajudou Belerofonte a capturar Pégaso instruindo-o e dando-lhe uma rédea especial, de ouro, para que ele pudesse domá-lo. Seus atributos Como deusa da guerra, Atena é a perfeita antítese de Ares, o outro deus encarregado desta atividade. Atena é dotada de profunda sabedoria e conhece todas as artes da estratégia, enquanto que Ares carece de todo bom juízo, prima pela ação impulsiva, descontrolada e violenta, e às vezes, no calor do combate, mal sabe distinguir entre aliados e inimigos. Por isso Ares é desprezado por todos os deuses, enquanto que Atena é universalmente respeitada e admirada. A falta de sabedoria de Ares explica sua invariável derrota sempre que confrontou Atena. O princípio simbolizado por Ares é por vezes mais necessário quando se trata de desbravar um território hostil e fundar ou conquistar uma cidade, ou quando a violência é absolutamente incontornável diante de uma situação desesperada, mas é incapaz de criar cultura e civilização e manter a sociedade numa forma estável, integrada e organizada. Este papel cabe a Atena, a deusa da sabedoria, da diplomacia, da coesão social - lembre-se que ela é a protetora por excelência das cidadelas, o núcleo vital das cidades -, instrutora nas artes e ofícios manuais produtivos, especialmente o trabalho em metal e a tecelagem, que enriquecem o espírito e possibilitam a continuidade da vida em comunidade. Ela torna a guerra um instrumento social e político submetido ao intelecto, à disciplina e à ordem, antes do que um produto da pura barbárie e das paixões irracionais. As próprias derrotas repetidas de Ares diante de Atena, seu atributo como domadora de cavalos e, na disputa pela Ática, sua vitória contra Posídon, um deus conhecido por seu caráter turbulento, vingativo e irascível, confirmam a submissão da força bruta à soberania e ao equilíbrio da justiça e da razão. Entretanto, quando decide lutar nela não se encontra nenhuma hesitação ou fraqueza, e sua simples presença pode bastar para afugentar o inimigo. Na qualidade de guerreira Atena é invencível e pode ser tão implacável quanto Ares, mas isso não a priva de traços mais doces, o que Ares não possui. Vários episódios do seu mito a mostram em relações afetuosas com seu pai e com os seus protegidos, e sua fidelidade e devoção podem ser profundas. Ela tem ainda um inigualável senso de justiça e, como a virgem divina, de pureza, como provou várias vezes: puniu personagens tomados pela húbris ou que profanaram seus templos, protegeu donzelas prestes a serem violadas e foi dura contra o comportamento indigno dos pretendentes de Penélope, além de ter corrigido várias injustiças, como quando devolveu a vida a Perdix, que fora morto por seu tio invejoso, ou quando, num julgamento público em Atenas, seu voto dissolveu a maldição que caíra sobre Orestes, perseguido pelas Fúrias por conta do matricídio que cometera cumprindo uma ordem direta de Apolo. Por esta razão Atena é considerada a divindade tutelar dos julgamentos e dos júris, e a fundadora mítica das cortes de justiça ocidentais, substituindo a tradicional punição por vingança pela penalidade baseada em princípios consagrados num sistema legal formalizado. É possível que em tempos remotos Atena tenha sido uma deusa da fertilidade e tido o caráter maternal de todas as Grandes Mães da pré-história, sendo identificada com a rocha da Acrópole de Atenas que, como em regiões da Anatólia (uma das possíveis rotas de entrada dos povos indo-europeus na colonização primitiva da Grécia), se identificavam com as montanhas de suas cidades onde se erguiam as cidadelas. Ela pode ter tido ainda uma virgindade renovável anualmente, como se dizia que Hera possuía, um traço ligado aos ciclos naturais de renovação sazonal, mas de qualquer modo em tempos clássicos sua virgindade perene se tornou canônica. Ainda que no mito clássico a relação entre Atena e Hefesto no nascimento de Erictônio tenha sido conflitiva, eles aparecem frequentemente juntos na arte grega, ambos são considerados co-instrutores da humanidade nas artes, e em vários lugares dividiam um culto deste tempos remotos, o que levou Cook a sugerir que em uma fase primitiva, não documentada, Hefesto pode ter sido um verdadeiro esposo de Atena. Em algumas interpretações do mito pelos apologistas da época a deusa foi-lhe de fato dada em casamento, como prêmio por ele ter livrado Hera de um trono que a prendia (feito pelo próprio Hefesto), ou por ter criado o raio para Zeus usar como arma, ou por ter ajudado no parto da deusa, embora em nenhuma das versões a união realmente se consumasse. Platão fez uma descrição do elo entre Atena e Hefesto, o deus das forjas e das artes metalúrgicas, dizendo que eles possuem a mesma natureza, primeiro porque, como irmã e irmão, possuem o mesmo pai, e segundo, porque seu mesmo amor pelo conhecimento e artes os leva para os mesmos fins. Os dois deuses compartilhavam da região de Atenas e, ainda segundo Platão, ela com razão deveria pertencer a eles, sendo naturalmente adequada para a virtude e o pensamento. Tendo instalado ali como habitante um povo respeitável, eles organizaram a cidade de acordo com os seus desejos. Atena e Hefesto dividiam culto num templo na acrópole e outro na cidade baixa, num bairro habitado por artífices. Daí que Atena se tornou a padroeira dos carpinteiros, dos tecelões, dos construtores de navios e carruagens, dos ceramistas, e atribuía-se a ela a invenção das rédeas para domar cavalos, do carro de guerra, do arado e da flauta. Todas essas atividades envolviam habilidade manual e inteligência prática, algumas traziam em si um toque de magia, exigiam um definido senso estético que era então incluso no domínio da sabedoria, e definiam parte de seu caráter como doméstico, familiar e civilizador. Na Ilíada ela aparece dizendo que é a sabedoria e não a força bruta o que produz um bom artesão na madeira. Considerava-se a habilidade de construir um navio ou carruagem como sendo em essência a mesma que fazia um bom piloto ou cavaleiro, envolvendo os dons da atenção concentrada, disciplina, destreza física/manual e capacidade de estabelecer metas e segui-las até o fim. Da mesma forma o conceito se aplicava aos tecelãos, lavradores e ceramistas. Tendo como um de seus símbolos a oliveira, que oferecera como seu presente à cidade de Atenas em sua fundação, Atena era uma imagem da perenidade e vitalidade da pólis, e protetora de um dos seus produtos agrícolas mais importantes, o óleo de oliva, e tornou-se uma poderosa imagem de esperança e renovação para os gregos especialmente depois da guerra com os persas, quando a antiga oliveira sagrada da acrópole, incendiada no saque da cidade pelos inimigos, voltou a brotar. A ela era consagrado um olival na área da Academia, que produzia o óleo oferecido como prêmio aos vencedores dos jogos atléticos de seus festivais. A oliveira era ainda um dos indicativos da sua ligação com a fertilidade da terra e com a agricultura, aspectos que estavam por sua vez ligados ao lado feminino da natureza, o que conduz a outra das ambiguidades de Atena a respeito da dinâmica dos princípios da geração e da virgindade, do masculino e do feminino, em sua própria identidade, que era fortemente andrógina e paradoxalmente encontrava escasso paralelo na sociedade grega e em especial nas mulheres de seu tempo. Para aqueles gregos era fundamental que suas filhas permanecessem virgens até o casamento, mas era também fundamental que depois elas fossem capazes de constituir família gerando prole. Atena, a sempre virgem, repudiava desta forma valores básicos da sociedade grega. Guerreira, altiva e independente, também contrastava com o hábito da época que mantinha as mulheres em grande parte submissas ao homem, confinadas a atividades domésticas e delas exigia modéstia, mas por outro lado era a patrona da tecelagem, da fiação e do bordado, artes eminentemente femininas. Sua maior aproximação da maternidade foi a adoção e educação de Erictônio, e por isso foi chamada de kourotrophos, a que cria os homens jovens, mas também isso a conduziu a um maior contato com o princípio viril, como protetora de heróis. Mesmo a versão que a dava como filha de Métis, fazendo dela, assim, a receptora e transmissora de uma forma feminina de sabedoria, com o passar dos séculos foi amplamente sobrepujada pela versão que excluía uma mãe em seu nascimento, novamente ligando-a ao mundo masculino, e mais quando, no período clássico, o conceito de sabedoria, com a qual ela era identificada, deixou de significar uma habilidade que tinha muito um caráter prático, passando para o domínio do pensamento filosófico abstrato, também um apanágio dos homens. Outro aspecto relacionado é referido em uma ode de Píndaro, onde se encontra uma descrição de Atena como aquela que dissolve o poder demoníaco da Grande Mãe ctônica e torna o princípio feminino seguro e acessível às atividades e instituições masculinas da pólis, possibilitando assim a continuidade do modelo ateniense de civilização. Mito e política O mito de Atena exerceu uma influência decisiva no estabelecimento da identidade e da própria sociedade atenienses, e por extensão em toda a cultura da Grécia Antiga. Formou-se entre os atenienses uma ideia de que sua cidade era amada pelos deuses a partir da disputa entre Atena e Posídon, significando que eles tinham o desejo de se estabelecer preferencialmente ali. Mesmo tendo sido derrotado, Posídon simbolizou, através da fonte de água salgada que fizera nascer, em algumas versões um verdadeiro mar, o futuro poderio marítimo dos atenienses. A fertilização da terra ática pela semente de Hefesto foi outro elemento formador nesta noção, tornando o território sagrado, inaugurando com Erictônio uma dinastia de reis de origem pretensamente divina, e fundando com isso um povo que podia reivindicar para si uma prestigiosa autoctonia. Religião, mito e política estavam inextrincavelmente ligados, havia legislação vinculando inúmeros aspectos da vida religiosa à prática cívica, a ponto de fundirem-se Religião e Estado. Todo o mito de Atena foi extensivamente usado no discurso político da época para dar forma e fixar o modelo da sociedade ateniense, e, com o pretexto de "civilizar" os estrangeiros, substanciou as suas pretensões imperialistas sobre os bárbaros e mesmo sobre seus vizinhos gregos. Os oradores chegaram ao ponto de deduzir a democracia do princípio da autoctonia ateniense, equiparando igualdade política (isonomia) a igualdade de origem (isogonia). Segundo Loraux, desta forma a lei (nomos) era estabelecida sobre o fundamento da natureza (physis), e o povo assim legitimava seu poder — imbuindo a coletividade com um alto nascimento (eugenia), os cidadãos autóctones eram todos iguais porque eram todos nobres (mas entenda-se "todos" como apenas os que detinham a cidadania ateniense). Dando um passo além, os oradores orgulhosamente sobrepunham Atenas a todas as outras pólis, que para eles constituíam uma heterogênea reunião de intrusos estabelecidos num território que imaginavam seu por direito divino. A índole guerreira de Atena, destacando suas qualidades viris, associada à sua virgindade perpétua, jamais "entrando na casa de um homem", fazia com que ela jamais abandonasse a "casa de seu pai", permanecendo sob a direta influência de Zeus, o patriarca por excelência, e tal fato se tornou uma das bases míticas do patriarcado local e da primazia do homem sobre a mulher na sociedade e na política ateniense. Também o mito de Teseu foi incorporado ao de Atena dentro de um viés político, pelo fato de que ele era considerado o unificador da Ática, sendo celebrado ao lado de Atena tanto no festival da Synoikia como nas Panatenaias. Culto Atena teve o seu centro de culto mais importante em Atenas, cidade da qual era a padroeira, uma proteção estendida a toda a Ática. Em muitos locais Atena era cultuada em associação com outras divindades e heróis, como Erictônio, Hefesto, Posídon, Deméter e Teseu. Nos ritos que estavam associados a funções legais muitas vezes era servida junto com Zeus. Mas não se limitou à Ática, ao contrário, como uma deusa urbana por excelência, protetora das cidades, a presença de Atena é atestada em quase toda a volta do mar Mediterrâneo, penetrando pelo oriente até a Pérsia. Seus atributos e o seu culto conheceram assim infinitas variações, o que torna impossível defini-los como homogêneos. De fato, como observou Deacy, houve tantas Atena quantas foram as cidades que a adotaram em suas religiões, e se registram dezenas delas onde Atena era não apenas cultuada, mas se tornara a divindade principal. Cabe, porém, um detalhamento do seu culto em Atenas e entorno, onde adquiriu uma importância excepcional. Das várias festas dedicadas em sua honra, como a Plynteria e a Skiraphoria, as Panatenaias eram as mais importantes, pois além de serem uma grande celebração religiosa, tinham grande impacto na vida política e social, e influíram decisivamente na produção artística ao longo de dez séculos, oferecendo uma quantidade de novos motivos temáticos e formais para os artistas. Alguns estudiosos acreditam que os hinos cantados em homenagem a Atena nas Panatenaias ao longo do século VI a.C. contribuíram para a fixação da forma canônica dos grandes épicos da Ilíada e da Odisseia. Todo o culto de Atena estava de alguma forma ligado à agricultura, a mais importante fonte de subsistência para os gregos, mas tinha outras associações e se projetava no seu mito. E neste culto a principal atenção recaía sobre a Atena Polias, que concentrava em si todos os múltiplos atributos de Atena. Era ela quem recebia as mais importantes e ricas oferendas e homenagens. Era servida por um grupo de sacerdotisas, e a principal entre elas em Atenas era escolhida na família dos Eteobutadae. A mesma família provia um sacerdote para o culto paralelo de Erictônio e Posídon. A principal função das sacerdotisas era receber as oferendas e realizar preces e rituais. O culto era faustoso, recebendo centenas de ofertas de estátuas e objetos de prata e ouro. Atena tinha, além disso, direito a 1/60 de toda a arrecadação de Atenas e dos territórios sob sua jurisdição, o que podia chegar à soma de dez talentos em alguns anos, algo como seis milhões de dólares em valores atuais. Para gerir esses recursos era designado um corpo de funcionários especiais, eleito em votação. Os templos de Atena presumivelmente tinham um caráter ao mesmo tempo de casa familiar aristocrática, onde meninas da elite recebiam uma educação esmerada, contando com mestres, servos e escravos. Era ainda o local onde jovens eleitas se tornavam discípulas das sacerdotisas para futuramente servirem à deusa. Festivais O festival da Plynteria tinha como centro a limpeza anual da mais antiga e mais sagrada dentre as imagens da deusa conservadas na acrópole, o Paládio, que era honrado com um fogo perpétuo e segundo a tradição fora capturado pelos gregos que lutaram em Troia. Era realizado por um pequeno grupo de sacerdotisas na lua nova entre fins de maio e início de junho, longe das vistas do público, numa cerimônia propiciatória e purificadora que encerrava um ciclo agrícola e magicamente preparava o ciclo seguinte. Aparentemente o rito se desenrolava todo na acrópole, e iniciava com a remoção de seu manto, seguido da colocação de um véu sobre a estátua despida e lavagem do manto; um ou dois dias depois a própria imagem era lavada, recebia seu manto limpo e era adornada com uma coroa de ouro e outros ornamentos preciosos, além de possivelmente ser ungida com óleo. A lavagem da estátua estava associada ao nascimento da deusa e recontava as primeiras celebrações dedicadas a Atena em tempos imemoriais. O festival se repetia em toda a Ática e em várias outras localidades gregas, apresentando muitas variações, mas todas as descrições remanescentes de ritos gregos são pobres em detalhes. Também a época do ano em que a Plynteria era celebrada podia variar de acordo com costumes locais. O festival da Skiraphoria acontecia na lua cheia seguinte, era compartilhado com Deméter e tinha como tema a debulha dos grãos da colheita. Uma procissão saía da acrópole em direção aos campos do oeste de Atenas para inaugurar o processo de separação dos grãos do joio, o que constituía a última fase dos trabalhos agrícolas do ano, junto com o armazenamento. Erictônio, o filho adotivo de Atena, também era celebrado na Skiraphoria e tinha um templo para si, o Erecteion, pois sendo um deus ctônico, do mundo subterrâneo, estava associado à agricultura. Coroava o ciclo o festival das Panatenaias, quando, dois meses depois da Plynteria, todo o grão havia sido debulhado e armazenado. As Panatenaias só adquiriram a primazia entre os festivais depois que o culto de Deméter em Elêusis foi instituído no século VI a.C., quando os ritos da debulha perderam importância em sua associação com Atena. As Panatenaias de dividiam em duas: a Grande Panatenaia, comemorada a cada quatro anos envolvendo grandes celebrações, e a Pequena Panatenaia, anual, de caráter mais limitado. Aparentemente até o tempo de Pisístrato não se fazia distinção entre ambas, e só então o festival foi reformulado com duas versões bem diferenciadas em amplitude e esplendor, que não obstante ao longo do séculos sofreram outras modificações. Corriam duas explicações para a origem da festa: uma dizia que fora fundada por Erictônio, e outra, possivelmente posterior, por Teseu. O festival da Grande Panatenaia estruturava toda a vida cívica de Atenas. Marcava a substituição dos tesoureiros do Partenon, acarretava o aumento dos tributos cobrados das cidades do império ateniense, e se exigia que os embaixadores renovassem as relações interestatais dez dias antes das comemorações. O prestígio da Grande Panatenaia equiparava-se ao dos outros grandes festivais pan-helênicos e atraía visitantes de todo o mundo grego, embora a participação efetiva em alguns de seus eventos estivesse restrita aos atenienses - para um estrangeiro, ser convidado a participar representava uma grande honra. Além da parte religiosa se realizava concomitantemente uma variedade de outros eventos, como banquetes, regatas, jogos atléticos, corridas de cavalos, representações musicais e teatrais, brigas de galos, récitas poéticas e mesmo seminários filosóficos. A sequência exata dos ritos e dos outros eventos não é citada em nenhuma fonte conhecida. Possivelmente se iniciava com os jogos, que se desenvolviam ao longo de alguns dias, seguindo-se uma procissão e sacrifícios. Os jogos faziam referência ao papel de Atena nas guerras primordiais entre os deuses e os gigantes, além de marcarem oficialmente a passagem do ano e com isso simbolizarem a renovação de toda a sociedade. Nos jogos havia espaço para cantos e danças rituais de caráter guerreiro e encenações de combates onde atores personificavam os deuses e seus inimigos míticos, que além de honrarem a deusa tinham funções apotropaicas, afugentando maus espíritos. Provavelmente os jogos foram uma inserção relativamente tardia no ciclo das Panatenaias, datando de meados do século VI a.C., quando estava em ascensão o culto do herói, e assim se explica a associação paralela de Teseu aos festejos. Seus vencedores recebiam como prêmios gado e as cobiçadas ânforas panatenaicas, cheias do óleo das oliveiras consagradas a Atena. A procissão, realizada no dia 28 do mês de hekatombaion, definido como o dia de aniversário de Atena, também desempenhava função importante no festival, e espelhava tanto a hierarquia social da cidade como o caráter feminino da deusa: nem todos os estratos sociais podiam fazer parte dela, a abertura do cortejo oficial era dominada por mulheres e o encerramento era composto apenas por jovens virgens da classe superior. O funcionalismo do Estado também participava em peso, todos acompanhados por grande multidão portando oferendas, ornamentos e ramos de oliveira. Muitos a seguiam montados em cavalos ou em carruagens. Estrangeiros costumavam acompanhá-la vestindo túnicas púrpura e levando salvas de prata contendo bolos e favos de mel, suas filhas levavam vasos de água. Na noite anterior, partindo do olival sagrado da Academia, ocorria uma corrida com tochas que relembrava Hefesto por sua associação com Atena e Erictônio. A procissão seguia o mesmo percurso da corrida de tochas, mas partindo do portão noroeste da cidade, e seu objetivo principal era o transporte, até o santuário da Atena Polias, de uma grande túnica ritual, ricamente bordada por meninas, mostrando cenas do seu mito, a fim de substituir a túnica ofertada no festejo anterior, mas pouco se sabe como transcorria a cerimônia de entrega e investidura na sua estátua. De todas as oferendas dedicadas a Atena neste dia a mais importante era um selo que materializava um vínculo formal entre a deusa e sua cidade. A data era comemorada também com a libertação de escravos. Os sacrifícios eram igualmente ricos, mas há alguma discordância sobre seus detalhes. Em linhas gerais cada cidade da Ática, cada colônia de Atenas e cada outra cidade em sua dependência enviava um touro para ser abatido. Mesmo em anos de dificuldades econômicas, como foi o caso de 410-409 a.C., os sacrifícios podiam contar com cem animais, a um custo de mais de cinco mil dracmas (cerca de quinhentos mil dólares atuais). Anos de riqueza podiam testemunhar um abate de trezentas vítimas. Seus chifres eram recobertos de folha de ouro, e perto do meio-dia a sumo-sacerdotisa ordenava o início dos sacrifícios. Uma donzela lançava grãos de trigo sobre a cabeça do touro e em seguida ele recebia um golpe na cabeça. Depois o animal era erguido pelos atendentes, sua garganta era cortada, e o sangue recolhido em vasos era lançado aos pés do altar como a primeira oferenda aos imortais. Sua carne era então distribuída: a deusa recebia os ossos das coxas envoltos em gordura, que eram queimados no fogo do Grande Altar, quando se iniciavam coros, preces e música de flauta. Partes do coração, fígado e rins eram assadas no mesmo fogo e oferecidas aos oficiais do governo; o fígado também servia para os áugures fazerem profecias e desvendarem a vontade dos deuses. O restante da carne era dado no fim da tarde à população, após ser fervida em caldeirões e o povo orar pela prosperidade da República. Na mesma ocasião Atena, em seus atributos de Nike, Parthenos e Hygieia, recebia sacrifícios especiais de acordo com o atributo. Quanto à Pequena Panatenaia, era em muitos pontos semelhante à Grande, mas suas comemorações eram bem mais modestas e limitavam-se à cidade de Atenas, sem um caráter pan-helênico. Ao que parece não era entregue uma túnica a Atena e também a presença de jogos é discutível, mas quase de certeza se realizavam uma procissão e sacrifícios. Um outro festival era o da Prokharisteria, um dia de ação de graças celebrado quando os grãos começavam a brotar, significando que a deusa estava nascendo. Na ocasião todos os funcionários públicos da cidade lhe faziam sacrifícios. Licurgo disse que era, de todos, o festival mais antigo.Também é digno de nota outro rito de Atena, relatado por Varro, que envolvia o sacrifício de um bode uma vez por ano na acrópole. Durante um período o bode foi considerado seu animal sagrado, pois se acreditava que sua couraça havia sido feita com a pele deste animal. Contudo, os bodes eram presenças vetadas na acrópole, pois segundo a tradição um bode danificara a oliveira sagrada que ali crescia, e tampouco eram usualmente oferecidos em sacrifício à deusa. A exceção anual a isso enfatizava a importância da cerimônia, sugerindo, como pensa Frazer, que este bode era então tido como uma verdadeira encarnação da deusa. Outras regiões Alguns exemplos de seu culto em outras regiões podem dar uma ideia sobre a sua diversidade. Em Lindos, na ilha de Rodes, que como muitos locais reivindicava ser o local de nascimento de Atena, seus sacrifícios tinham a peculiaridade de ser executados sem fogo. Em Argos se realizava a Plynteria não na acrópole local, mas uma estátua de Atena era levada em procissão até o rio e ali despida e banhada. Os homens eram impedidos de assistir, pois podiam incorrer na ira de Atena e ser cegos se a vissem nua. Na Líbia os seus ritos estavam associados aos da ninfa aquática Tritonis e eram realizados por sacerdotisas vestidas com armaduras. Em Tebas ela era adorada como deusa da cidade mas não tinha templo, e as cerimônias se davam diante de uma estátua e altar ao ar livre. Em Coroneia era uma deusa da paz, da poesia e da vegetação, e seu culto estava ligado ao mundo subterrâneo, adorada juntamente com Hades. Em tempos clássicos em praticamente todas as partes o culto de Atena se caracterizou por ter uma feição civilizada para os padrões da época, sem sinais de traços orgiásticos ou bárbaros, coincidindo com a progressiva purificação do mito que fez dela uma deusa perenemente virgem, mas há relatos sobre a sobrevivência de práticas bastante rudes em alguns locais isolados, onde teriam sido realizados sacrifícios humanos destinados a aplacar sua ira, rememorando episódios do mito, como quando a deusa furiosa teria jogado as filhas de Cécrops da rocha da acrópole por terem desobedecido suas ordens, ou quando vingou o ultraje a Cassandra. Parece que até o século IV a.C. ainda se faziam sacrifícios humanos num rito que ligava Lócris e Troia. De Lócris se enviavam duas donzelas por ano para Troia, usando uma túnica simples, sem sandálias e de cabelos raspados. A primeira enviada era morta pelos troianos, seus ossos eram enterrados em uma suntuosa cerimônia, e suas cinzas jogadas de uma montanha dentro do mar. A outra donzela era admitida no templo de Atena e se tornava uma sacerdotisa. Porfírio relatou que na Laodiceia em tempos remotos também foram feitos sacrifícios humanos. Templos Até o presente não há evidências suficientes para apontar onde foi fundado o primeiro santuário de Atena, mas o local onde hoje se vêem as ruínas do Erecteion, uma construção do século V a.C., deve ter abrigado em tempos anteriores um dos mais antigos templos dedicados à deusa, havendo ali vestígios de construções datadas do período micênico. A partir de meados do século VI a.C. há notícia de diversos templos de grandes proporções já erguidos em várias cidades. De todos eles o mais célebre foi o Partenon de Atenas, cujas ruínas ainda são visíveis na acrópole local. Ele se tornou um dos mais conhecidos ícones da cidade e de toda a cultura grega, e constitui um exemplo prototípico do templo grego em estilo dórico. Foi construído após o saque de Atenas e destruição da acrópole pelos persas em 480 a.C., substituindo uma estrutura mais antiga, sendo um dos marcos artísticos inaugurais do período Clássico. Este foi o tempo de Péricles, que reorganizou a cidade devastada e, mais do que isso, conseguiu consolidar a posição de Atenas como a maior força política e cultural em toda a Grécia daquela época. Relatos antigos referem a rapidez com que as obras se realizaram, congregando toda a sociedade no esforço da reconstrução, e o orgulho que os atenienses sentiam pelo magnífico resultado, visto como um símbolo do poderio e prestígio ateniense. A reconstrução esteve sob a supervisão artística de Fídias, renomado escultor, que se responsabilizou também pelo projeto da decoração escultural do templo e pela ereção de duas estátuas monumentais de Atena, realizadas por ele pessoalmente. Apesar do nome pelo qual se tornou conhecido, segundo indicam registros oficiais do período, o Partenon foi dedicado à Atena Polias, a padroeira da cidade, mas sabe-se que entre o povo ela recebia comumente o epíteto de Parthenos, "a virgem", e daí ter-se-ia fixado o nome de Partenon. De qualquer forma, a despeito de sua significância política, de sua fama ao longo dos séculos por sua importância arquitetônica e também escultural — o templo foi decorado com ricos frisos em relevo e nele estava instalada a colossal estátua criselefantina de Fídias, a Atena Parthenos — de acordo com Mikalson, o Partenon tinha um papel quase insignificante dentro do culto de Atena propriamente dito, que ficava concentrado no Erecteion, onde residia a Atena Polias. O Partenon era, na prática, mais o depósito do tesouro da Atena Polias do que verdadeiramente um local de culto, e sequer possuía um altar ou sacerdotes. Outros templos foram construídos por toda a Ática e além, como na Jônia, Beócia, Lídia, Rodes, Tessália, Eubeia, e várias outras regiões. Dentre os templos extra-áticos foram particularmente destacados os da Jônia, cujas cidades possuíam todas um templo de Atena, sendo especialmente ricos os de Smirna e Mileto. Em Esparta a estrutura mais importante em sua acrópole, um templo todo em bronze, era devotada a Atena. Na Beócia se reputava como de grande antiguidade o santuário de Queroneia, sede de uma festividade própria, a Pan-beócia, que comemorava a renovação mítica de todos os beócios. Contudo, a localização dos vários templos citados na literatura antiga é extremamente difícil, pois as descrições disponíveis em geral não concordam com as ruínas que atualmente são identificadas como dedicadas à deusa. Sincretismo Atena foi associada na Grécia Antiga a duas deidades menores: Nike, a deusa da vitória, por sua natural associação com a guerra, sendo chamada Athena Nikê e recebendo um culto particularizado em templos próprios, e Higeia, deusa da saúde. Higeia parece ter sido considerada uma emanação de Atena. Embora identificada com a saúde, em especial a saúde mental, a Athena Hygieia não deve ter sido envolvida primariamente com o tratamento dos doentes. Antes, deve ter sido relacionada à "guarda" da saúde e simbolizado o conceito de que a saúde poderia ser preservada se o homem vivesse de acordo com a razão, o bom senso e o ideal da mente sadia em um corpo sadio, popularizado pelos romanos na expressão mens sana in corpore sano. Em Esparta os doentes dos olhos buscavam auxílio invocando Athena Ophtalmitis. Diversas outras divindades cultuadas na orla do Mediterrâneo foram sincretizadas com Atena por apresentarem traços em comum, em geral os que as faziam deuses guerreiras, aumentando o número de variantes de seu culto e influindo na sua iconografia. Este fenômeno ocorreu no período helenístico, quando as expedições militares de Alexandre, o Grande levaram a cultura grega para o oriente e Egito, havendo registro de moedas com a efígie de Atena cunhadas até na Ásia central e periferia indiana. Na Pérsia e em torno do deserto da Arábia ela foi identificada com Ishtar e Allat,] e foi sugerido que possa ter-se identificado com Anahit, deusa da fertilidade e equivalente de Inana ou Ishtar. Na Armênia associou-se com Nané, parte da trindade armênia e responsável pelo atributo da proteção. Plutarco disse que, no Egito, Ísis era chamada de Atena porque expressava a ideia de que havia nascido de si mesma, relacionando-a à virgindade e à auto-suficiência, e Platão afirmou que em Saís fundiam-na com Neith, pelos atributos da guerra e da tecelagem, e ambas tinham um mesmo animal simbólico, a coruja. Em Chipre e na Fenícia foi associada com Anat, a "virgem e destruidora", protetora das cidadelas. De todos o mais conhecido, importante e duradouro sincretismo de Atena aconteceu por obra romana, vinculando-a à deusa Minerva. Minerva tinha originalmente quase os mesmos atributos de Atena — deusa das artes, trabalhos manuais, dos ofícios e da guerra —, mas sua associação com a guerra se verificou em data tardia. Entretanto, Minerva nunca chegou a ter a mesma importância relativa no panteão romano como teve Atena entre os gregos. É possível que Minerva tenha sido introduzida em Roma pelos etruscos, que mantinham desde antes dos romanos um estreito contato com a Grécia.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Atena